
05 set O marketing por trás das cervejas “instagramáveis”
Nos últimos anos, o universo das cervejas artesanais deixou de ser um nicho exclusivo para especialistas e se transformou em um verdadeiro espetáculo de consumo cultural. Hoje, a experiência de beber vai muito além do líquido no copo: envolve identidade, lifestyle, narrativa e, sobretudo, a estética. Nesse contexto, surge uma questão provocativa: será que as cervejas artesanais “instagramáveis” estão enganando o consumidor?
O debate é relevante, principalmente quando analisamos como o marketing e as redes sociais moldam a percepção de valor no mercado cervejeiro. De um lado, marcas que apostam no design e na experiência visual conseguem conquistar olhares e curtidas. De outro, cresce o risco de transformar a bebida em apenas um objeto de vitrine, deixando a qualidade sensorial em segundo plano.
O boom da cerveja artesanal e o poder da imagem
A revolução das cervejas artesanais no Brasil e no mundo foi marcada por duas grandes promessas: resgatar o sabor autêntico da cerveja e criar conexões reais com o consumidor. Em vez de fórmulas padronizadas, os rótulos artesanais trouxeram diversidade, ousadia e criatividade.
Mas com o crescimento acelerado do setor, a competição ficou acirrada. E quando muitas cervejarias oferecem qualidade semelhante, o visual se torna um fator decisivo. Um rótulo chamativo, uma lata colorida, um copo estilizado ou mesmo a ambientação do bar podem transformar um simples gole em uma experiência digna de ser compartilhada no Instagram.
Essa estética “instagramável” tornou-se parte central da estratégia de marketing. Afinal, em uma era em que consumidores são produtores de conteúdo, nada é mais poderoso do que transformar cada cliente em uma vitrine ambulante da marca.
O que significa ser “instagramável”?
O termo “instagramável” refere-se a algo que desperta desejo de ser fotografado e compartilhado. No universo da cerveja artesanal, isso pode significar:
- Rótulos criativos e chamativos: ilustradores, designers e até artistas plásticos envolvidos na construção da identidade visual.
- Cores vibrantes na bebida: cervejas verdes, roxas ou com glitter comestível que impressionam pelo visual.
- Ambientes instagramáveis: bares com murais, luzes de neon e decorações que incentivam cliques.
- Acessórios e copos diferenciados: taças com formatos inusitados ou embalagens que viram objetos de coleção.
Tudo isso contribui para transformar a cerveja artesanal em muito mais do que um produto de consumo: ela vira um conteúdo.
A estética como estratégia de marketing
Do ponto de vista de branding e comunicação, trabalhar com a estética “instagramável” é extremamente estratégico. Afinal, consumidores não compram apenas cerveja: compram status, pertencimento e experiências.
Uma embalagem impactante pode:
- Aumentar a lembrança de marca: rótulos únicos permanecem na memória.
- Gerar viralização orgânica: consumidores compartilham fotos espontaneamente.
- Atrair novos públicos: pessoas que não eram fãs de cerveja artesanal podem se sentir curiosas pela novidade visual.
- Diferenciar-se na prateleira: onde dezenas de opções competem pela atenção.
No entanto, aqui nasce a polêmica: até que ponto essa estratégia é saudável para o mercado?
Quando o visual engana o consumidor
É inegável que, em alguns casos, a estética acaba ultrapassando a essência. Há relatos de consumidores que compraram cervejas artesanais atraídos pela embalagem, mas se decepcionaram com o sabor. Outros apontam que algumas marcas investem mais em design e marketing do que em processos de qualidade.
Isso pode gerar um efeito perigoso: a quebra de confiança. No curto prazo, a estética pode atrair, mas no longo prazo, o paladar decide a fidelidade.
É aqui que entra a provocação do nosso tema: será que as cervejas “instagramáveis” enganam o consumidor?
A resposta depende da forma como as marcas equilibram visual e essência. Se o apelo estético for apenas uma fachada, sim, existe engano. Mas se o design for uma extensão da proposta sensorial, então o rótulo não engana, apenas potencializa a experiência.
Marketing ou autenticidade: o dilema das cervejarias artesanais
A tensão entre marketing e autenticidade é um tema recorrente em mercados criativos. No universo da cerveja artesanal, essa tensão ganha ainda mais força, já que a promessa inicial desse movimento era justamente valorizar a autenticidade, a paixão e a qualidade acima de tudo.
Quando a estética passa a ser o centro da estratégia, surge o risco de esvaziar esse discurso. Afinal, de que adianta uma embalagem premiada se o líquido dentro dela é comum? Por outro lado, uma cerveja excelente que não se comunica visualmente pode nunca alcançar seu público-alvo.
Esse dilema mostra que a solução não está em escolher entre autenticidade ou marketing, mas sim em equilibrar os dois.
O consumidor de topo de funil e a armadilha da aparência
Para o consumidor que está começando a explorar o universo das cervejas artesanais — o chamado topo de funil —, a estética é um dos principais pontos de contato. É comum que alguém escolha sua primeira cerveja artesanal pelo rótulo, pela cor ou pelo apelo visual no Instagram.
Isso não é necessariamente ruim. O visual pode ser uma porta de entrada, despertando curiosidade para sabores diferentes. Porém, se a experiência sensorial não acompanhar, o risco é que o consumidor abandone o segmento, achando que se trata apenas de modismo ou marketing vazio.
Por isso, a responsabilidade das marcas é grande: usar o apelo “instagramável” como convite, mas entregar autenticidade e qualidade no copo.
Como transformar estética em experiência autêntica
Para evitar cair na armadilha de enganar o consumidor, cervejarias artesanais podem adotar algumas boas práticas:
- Alinhar identidade visual e proposta sensorial
O design deve refletir o que está dentro da garrafa. Se a cerveja é tropical e refrescante, a estética pode ser leve e vibrante. Se é encorpada e complexa, o rótulo pode transmitir sofisticação. - Investir em storytelling
O rótulo não precisa apenas chamar atenção; pode contar uma história, apresentar ingredientes, falar sobre o mestre-cervejeiro ou a cultura por trás da receita. - Educar o consumidor
Usar as redes sociais para explicar estilos, harmonizações e processos é uma forma de transformar a curiosidade visual em conhecimento. - Valorizar a experiência completa
A cerveja artesanal não é só bebida: é cultura, comunidade e lifestyle. Quando o visual se conecta a uma experiência coerente, o engajamento é real. - Não subestimar o paladar
Por mais que o marketing seja poderoso, nada substitui a autenticidade do sabor. O consumidor pode ser atraído pelo feed, mas só volta se o líquido corresponder.
O impacto no futuro do mercado cervejeiro
Se o mercado de cervejas artesanais seguir apostando apenas em estética “instagramável” sem entregar autenticidade, pode correr o risco de desgastar sua imagem. Afinal, consumidores são cada vez mais críticos e estão atentos a promessas vazias.
Por outro lado, se o setor souber equilibrar visual e essência, o potencial é imenso. A estética pode ser um convite, o storytelling pode ser a ponte, e o sabor pode ser a confirmação. Essa tríade é o que garante não apenas vendas, mas também fidelidade e construção de marca.
O rótulo é a isca, mas o sabor é o anzol
Cervejas artesanais “instagramáveis” não precisam enganar o consumidor. Elas podem ser a porta de entrada para um universo rico em sabores, culturas e experiências. Mas isso exige responsabilidade das marcas em não usar apenas o visual como fachada, e sim como extensão da autenticidade.
No fim das contas, o consumidor pode até ser atraído pelo feed, mas é o paladar que decide se a cerveja vai se tornar memória ou apenas mais uma foto esquecida na galeria do celular.
E para as marcas que querem construir estratégias sólidas, capazes de unir estética, narrativa e autenticidade, o marketing digital é um aliado indispensável.
Onde entra a Part Comunicação
A Part Comunicação entende que o mercado cervejeiro é feito de muito mais do que rótulos bonitos. É feito de histórias, de autenticidade e de experiências que se conectam com o consumidor. Por isso, a agência ajuda cervejarias artesanais e negócios criativos a criarem estratégias digitais que equilibram impacto visual e construção de marca verdadeira.
Do branding ao marketing de conteúdo, da gestão de redes sociais às campanhas de performance, a missão da Part é transformar estética em resultado — sem abrir mão da essência. Porque no mundo das cervejas artesanais, a imagem pode atrair, mas é a experiência que fideliza.